quarta-feira, 9 de junho de 2010

Noções Básicas sobre o Poder

1) O que é o “poder”?

O termo poder é empregado abundantemente, numa grande variedade de acepções. No entanto, nos interessa apenas compreender que poder é fazer valer por qualquer meio a sua vontade.
PODER É FAZER VALER A SUA VONTADE

2) Os elementos do poder

Podemos observar que o poder pode ser exercido por dois meios:
coerção: obrigar a outros, pela força ou imposição, que façam aquilo que desejamos;
influência: fazer com que os outros ajam como se fosse por vontade própria, por persuasão.

FORMAS DE EXERCÍCIO DO PODER: COERÇÃO ou INFLUÊNCIA

3) O que nos permite exercer o poder?

Para compreendermos bem o que é o poder devemos compreender o que nos permite exercê-lo, ou melhor, aquilo que nos dá a capacidade de dominar. Recurso é tudo o que nos dá esta condição ou capacidade. Podemos afirmar, então, que têm mais poder aqueles que têm mais recursos.
4) Os recursos do poder

Podemos afirmar que existem vários tipos de recursos:
econômicos (poder econômico);
simbólicos (imagem pessoal, cargos à disposição de um político para distribuição entre partidos que o apoiem, informação, conhecimento, posição ocupada na organização social etc.);
subjetivos (qualidades pessoais, competência);
coercitivos (poder militar, poder de polícia, censura).

5) As estratégias do poder

Basta possuir os recursos para que alguém exerça poder? Claro que não! Só é recurso aquilo que pode ser usado agora. Se não está disponível, não vale. E mais, para exercermos poder precisamos ter vontade para isso. Por fim: não basta termos recursos, precisamos saber usá-los ou, em outras palavras, precisamos de uma estratégia. Neste momento encontramos os elementos que nos permitem analisar o poder enquanto alocação de recursos.

6) Autoridade

A estrutura social é composta de uma rede de posições sociais, cada qual vinculada a um certo grau de poder. Ou seja, as posições são recursos. Dão aos indivíduos que as ocupam a capacidade de fazer valer sua vontade. Posições elevadas na estrutura social implicam influência ou controle sobre os outros membros do grupo ou sociedade. Quando há divergência, normalmente ganham os que estão em posições superiores. Obviamente existem outros recursos que podem ser introduzidos – por exemplo, armas, dinheiro, inteligência, conhecimento, beleza, força física etc. –, mas sempre que existe organização, as posições são recursos fundamentais.
E como estamos falando de uma hierarquia social, devemos lembrar que a classe social também é uma posição. Esta posição de classe também dá poder ao indivíduo que a ocupa. As classes mais privilegiadas da sociedade possuem mais poder que as menos favorecidas. Assim, podemos afirmar que o poder também emana da riqueza. Mas devemos ter o cuidado para não tomarmos isto em absoluto; é que o papel da riqueza na relação de poder é relativo: ela não é a única e nem a mais importante fonte de poder.
Sabemos que a posição de um indivíduo num grupo social qualquer ou de um grupo no interior da sociedade é um recurso que lhe permite fazer valer sua vontade. No entanto, o que dá legitimidade à posição de alguém, isto é, o que dá a alguém o direito de ocupar tal posição? O que dá autoridade a alguém que ocupa uma certa posição, isto é, o direito de exercer poder sobre o outro? (Atenção: sempre que usamos a palavra “legitimidade” estamos nos referindo ao direito de alguém fazer alguma coisa!)
Ao poder que emana da posição num grupo ou na sociedade, chamamos de AUTORIDADE.

O poder pode fundamentar-se sobre muitas bases como no medo, nas promessas ou no dinheiro. Mas nada é tão permanente e estável quanto a autoridade. A posição que constitui uma autoridade considerada legítima pelos demais membros do grupo. Significa, em essência, que alguém tem o direito de comandar outros, e esses outros têm obrigação de obedecer. E isso a partir de um consenso de todos os integrantes do grupo; a partir do reconhecimento do próprio grupo.

7) Os fundamentos da legitimidade da dominação

Agora veremos as três possíveis fontes da autoridade que podemos encontrar em qualquer relação humana. Na realidade, estes três tipos de dominação existem misturados. Ora vamos perceber a predominância de um, ora de outro.

a) Dominação Tradicional

A autoridade tradicional é um poder baseado na tradição, nos costumes e em valores arraigados em nosso modo de ver o mundo. Obedece-se por fidelidade. A autoridade tradicional tem origem numa visão sobre o “modo de ser das coisas, que devem ser assim porque sempre foram assim”; ou, em outra palavras, a posição de quem dirige e sua autoridade para dirigir surge do próprio reconhecimento do grupo devido a uma tradição, normalmente longa.

b) Dominação Legal-racional

A autoridade de tipo legal-racional tem origem na estrutura social formalizada em lei. Neste caso as posições são descritas em uma constituição; quem quer que ocupe posições de liderança ou mando recebe o direito de comandar de um estatuto ou de uma constituição escrita. Os demais membros do grupo tem a obrigação de obedecer porque concordam com as leis estabelecidas.
A autoridade legal-racional caracteriza-se por seguir um estatuto, estar inserida numa organização burocrática, manifestar-se em relações formais e possuir um quadro administrativo. A relação é do tipo superior e funcionário e segue uma disciplina do serviço, baseada na competência profissional.

c) Dominação Carismática

Às vezes surge na sociedade um indivíduo extraordinário que reúne a sua volta numerosas pessoas que o admiram e reverenciam. Isto caracteriza a autoridade carismática, que depende mais das qualidades pessoais do indivíduo que assume a liderança e do reconhecimento que ele obtém dos demais membros do grupo ou da sociedade. A autoridade de tipo carismática caracteriza-se por uma relação entre o líder e seus discípulos ou apóstolos. O líder é determinado por faculdades mágicas, revelações, heroísmo, carisma, poder intelectual ou oratória. Obedece-se exclusivamente o líder enquanto seu carisma subsiste.

8) Alguém não tem poder?

O poder encontra-se em todos os casos de interação social. O poder está diluído. Mas – e isto é importante que fique claro – as pessoas ou os grupos não compartilham o mesmo poder. O poder é uma relação assimétrica, quer dizer, entre desiguais.
Dizemos freqüentemente que “fulano” tem poder e “beltrano” não. Não está correto.  Nem todos têm a mesma quantidade de recursos, a mesma vontade ou a mesma capacidade de usá-los, de modo que uns acabam dominando e outros tornam-se dominados. Entretanto, todos possuem algum recurso, o que acaba desequilibrando a relação de poder existente. Por isto ninguém domina totalmente, nem para sempre.

Nenhuma influência........... Alguma influência........... Controle

             A escala do poder

O resultado do exercício do poder é a influência, ou seja, levar os outros na direção em que se deseja. Às vezes, o resultado é o controle, que é conseguir o que se quer sem quase nenhuma resistência por parte dos outros. Vemos assim, que o poder segue um continuum, de nenhuma influência, passando por alguma influência, até o controle total da situação.
Sempre que as pessoas interagem, lançam mão de recursos que usam nesta interação. Cada qual tenta por sua maneira influenciar a direção dos acontecimentos e da interação. Por isso dizemos que quase sempre as relações sociais se dão por meio de conflitos, mas nem sempre e nem freqüentemente por meio de conflitos abertos ou violentos. Conflito deve ser compreendido aqui como esse jogo de influências mútuas, a tensão existente em toda relação humana. E nem sempre consegue-se totalmente o que se quer. O oposto do poder é a impotência. Ser impotente significa que alguém não tem controle sobre a situação, que é incapaz de resistir eficazmente quando outros exercem o poder e que não tem capacidade de influenciar a direção da organização social, inclusive da sociedade. A relação de poder é uma necessidade humana. Como o deus Jano, da mitologia greco-romana, ele possui duas faces: capaz do “Bem” e do “Mal”.
Uma outra fonte de poder na sociedade é a organização dos indivíduos em torno de objetivos comuns. Como a sociedade é composta de vários grupos com interesses distintos, é importante um mínimo de organização para que seus interesses sejam, de fato, alcançados. De modo que o poder também emana da organização das pessoas; as que estiverem melhor organizadas têm maior oportunidade de fazer valer sua vontade do que as não organizadas. Isto é importante especialmente no caso das democracias.
Sempre que se trata de coordenar atividades coletivas surge o problema do poder. Mas o exercício do poder está sujeito a algumas condições que têm por efeito limitar o campo de ação dos que dele dispõem. A própria necessidade de mobilização de recursos para que se exerça o poder depende de uma negociação prévia e implica uma dependência daquele que exerce poder. Por isso podemos dizer, ainda, que o poder é sempre uma negociação, um sistema de reciprocidade, ou seja, de trocas. De modo que, qualquer que seja o caso, não somos impotentes perante o poder, pois a relação de poder é sempre parcialmente controlada, não só por aqueles que a exercem, mas também por aqueles sobre quem ela se exerce.

10) O poder tem ética?

O poder tem uma ética própria, ou seja: os fins justificam os meios. Dito desta forma parece um absurdo. Hoje em dia pensamos que apenas técnicos e especialistas deveriam assumir posições de comando na sociedade. Outros acreditam que os homens públicos deveriam ser escolhidos pela sua moral. Não importa se o líder ou o homem público é um especialista ou uma pessoa íntegra e de moral elevada, pois o exercício do poder possui suas regras que, caso não sejam seguidas, derrubam aqueles que não as seguem. A relação de poder possui uma ética específica, própria. O jogo do poder, por diversas vezes, impõe certas regras que a moral individual rejeita. Ora, façamos a distinção: uma coisa é a moral pessoal – a ética privada – e outra coisa é a moral pública – a ética pública. Nós confundimos constantemente as duas. Isto não quer dizer que não devemos fazer uma reflexão ética sobre o poder; ao contrário, devemos refletir muito seriamente sobre os usos que são feitos dos recursos de poder. Em síntese, podemos afirmar que existem dois modos de ver esta questão, duas concepções éticas que orientam a política: uma pensa que a ética do poder está relacionada aos seus objetivos, é uma ética relacionada aos fins que se deseja alcançar e não está subordinada a valores morais; a outra pensa que a ética do poder está subordinada a valores morais e deve sempre se perguntar para o benefício de quem se está exercendo o poder.
 

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