quarta-feira, 28 de março de 2012
segunda-feira, 19 de março de 2012
STF pra quê?
No dia 3 de março último, o
Superior Tribunal Federal votou a favor da lei do piso nacional dos
professores. A instância máxima da justiça do nosso país se pronunciou.
Mas até agora, vários
governadores, entre eles o nosso, Tarso Genro, não cumpriram a lei. Não
implementaram o pagamento do dito piso.
Nosso governador descumpre a lei
e tudo permanece como está. Mais uma vez a legalidade, a democracia, a justiça
e, principalmente, o cidadão, foram derrotados.
Vivemos 20 anos de ditadura.
Lutamos e a derrubamos. Mas hoje, o dito Estado Democrático de Direito não
passa de uma fantasia, onde as lei se aplicam apenas ao povo. Os governantes
agem como querem. Como podemos dormir tranquilos se o próprio órgão máximo de
justiça, o STF, não tem validade nenhuma? Que garantias pode ter o trabalhador?
Até agora não se viu falar em penalidade aos Estados que não estão cumprindo a
lei. Uma temeridade, uma distorção dos princípios democráticos.
Um aspecto terrível disto tudo é
o fato de que o nosso governador, senhor Tarso Genro, é um advogado, um
profissional das leis. E o pior e mais atemorizante é de que este ocupou o
cargo de Ministro da Justiça. Como comandava sua pasta? Com o mesmo descaso
pela lei que demonstra agora como governador? Isso é a prova de que vivemos uma
democracia de faz-de-conta. O ex-Ministro da Justiça pisoteia a Constituição e
ignora o Supremo Tribunal Federal como se este fosse apenas um simples adorno
do poder público.
Trágico também é o fato inegável
de que senhor Tarso Genro era Ministro da Educação e foi signatário desta lei
do piso. Na sexta-feira, dia 16 de março, os professores esperavam mais de um
governo comandado pelo ex-Ministro da Educação, mas este, através do secretário
da educação, José Clóvis, humilhou os trabalhadores de educação ao simplesmente
negar a proposta de seu sindicato e impor o seu projeto a votação na
Assembléia. Os educadores gaúchos sofrem não só com o 2º pior salário do
Brasil, mas principalmente por serem tratados com tamanho desprezo.
Historicamente, este é um Estado
de valores simbólicos muito fortes. Aprendi desde criança, com meu avô, que o bigode
é um símbolo da palavra empenhada, um símbolo de honestidade. O fio do bigode
vale muito neste Estado.
O que vemos hoje é a falta de
compromisso e de lealdade – para com a lei, com os valores gaúchos, com os educadores,
com os cidadãos em geral.
Neste caso o bigode do governador é tão falso quanto a
premissa de que o STF é a instância máxima da justiça neste país.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Anjo Exterminador
As cidades latino-americanas não querem
parecer-se com Amsterdam ou Florença, mas com Los Angeles, e estão conseguindo
converter-se na horrorosa caricatura daquela vertigem
Por Eduardo Galeano
Em 1992 houve um plebiscito em Amsterdam. Os
habitantes da cidade holandesa resolveram reduzir à metade o espaço, já muito
limitado, que ocupam os automóveis. Três anos depois, proibiu-se o trânsito de
carros privados em todo o centro da cidade italiana de Florença, proibição que
se estenderá à cidade inteira à medida em que se multipliquem os bondes, as
linhas de metrô, as vias para pedestres e os ônibus. Também as ciclovias: será
possível atravessar toda a cidade sem riscos, por qualquer parte, pedalando em
um meio de transporte que custa pouco, não gasta nada, não invade o espaço
humano nem envenena o ar e que foi inventado, há cinco séculos, por um vizinho
de Florença chamado Leonardo da Vinci.
Enquanto isso, um informe oficial confirmava que os
automóveis ocupam um espaço bem maior que as pessoas, na cidade norte-americana
de Los Angeles, mas ali ninguém pensou em cometer o sacrilégio de expulsar os
invasores.
A quem pertencem as cidades?
Amsterdam e Florença são exceções à regra universal da
usurpação. O mundo motorizou-se aceleradamente, à medida que iam crescendo as
cidades e as distâncias, e os meios públicos de transporte recuaram diante do
automóvel privado. O ex-presidente francês George Pompidou comemorava, dizendo
que “é a cidade que deve adaptar-se aos automóveis, não o contrário”, mas suas
palavras assumiram sentido trágico quando se revelou que haviam aumentado
brutalmente as mortes por contaminação na cidade de Paris, na greve geral do
finzinho de 1995: a paralisação do metrô havia multiplicado as viagens de
automóvel e esgotado as máscaras anti-smog.
Na Alemanha, em 1950, os trens, ônibus e bondes realizavam
três quartos do transporte de pessoas; hoje, representam menos de um quinto das
viagens. A média europeia caiu a 25%, o que já é muito comparado com os Estados
Unidos, onde o transporte público, virtualmente exterminado na maioria das
cidades, só chega a 4% do total.
O ruído dos motores não deixa ouvir as vozes que denunciam o
artifício de uma civilização que te rouba a liberdade para depois vendê-la e
que te corta as pernas para obrigar-te a comprar automóveis e aparelhos de
ginástica. Impõe-se no mundo, como único modelo possível de vida, o pesadelo de
cidades onde os carros mandam, devoram as áreas verdes e apoderam-se do espaço
humano. Respiramos o pouco ar que eles nos deixam; e quem não morre atropelado,
sofre gastrite pelos engarrafamentos.
Henry Ford e Harvey Firestone eram amigos íntimos, e ambos
davam-se muito bem com a família Rockefeller. Este carinho recíproco desembocou
numa aliança de influências que muito teve a ver com o desmantelamento das
ferrovias e a criação de uma vasta teia de auto-estradas, em todo o território
norte-americano. Com o passar dos anos, tornou-se cada vez mais avassalador,
nos Estados Unidos e no mundo todo, o poder dos fabricantes de automóveis e
empresas de petróleo. Das 60 maiores companhias do mundo, a metade pertence a
esta santa aliança, ou está de alguma maneira ligada à ditadura das quatro
rodas.
Dados para um prontuário
Os direitos humanos terminam ao pé dos direitos das
máquinas. Os automóveis emitem impunemente um coquetel de muitas substâncias
assassinas. A intoxicação do ar é espetacularmente visível nas cidades
latino-americanas, mas muito menos intensa em algumas cidades do norte do
mundo. A diferença se explica, em grande medida, pelo uso obrigatório dos
conversores catalíticos e de gasolina sem chumbo, que reduziram a contaminação
mais notória de cada veículo, nos países de mais
desenvolvimento. No entanto, a quantidade tende a anular a qualidade, e estes
progressos tecnológicos vão reduzindo seu impacto positivo diante da
proliferação vertiginosa do parque automotor, que se reproduz como se fosse
formado por coelhos
Visíveis ou dissimuladas, reduzidas ou não, as emissões
venenosas têm uma longa folha corrida de crimes. Para apontar apenas três
exemplos, os técnicos do Greenpeace denunciaram que provém dos automóveis não
menos da metade do total de monóxido de carbono, de óxido de
nitrogênio e de hidrocarbonetos que tão eficazmente contribuem com a demolição
do planeta e da saúde humana.
“A saúde não é negociável. Basta de meias medidas”, declarou
o responsável por transportes em Florença, no início deste ano, enquanto
anunciava que esta será “a primeira cidade europeia livre de automóveis”. Mas
em quase todo o resto do mundo parte-se da base de que é inevitável que
o divino motor seja o eixo da vida humana, na era urbana.
Copiamos o pior
Copiamos o pior. As cidades latino-americanas não
querem parecer-se com Amsterdam ou Florença, mas com Los Angeles, e estão
conseguindo converter-se na horrorosa caricatura daquela vertigem. Estamos
treinando há cinco séculos como copiar, em vez de criar. Já que estamos
condenados à copiadite, poderíamos escolher nossos modelos com um pouco mais de
cuidado. Anestesiados como estamos pela televisão, a publicidade e a cultura do
consumo, acreditamos no conto da chamada modernização, como se este chiste de
mal gosto e humor sórdido fosse o abracadabra da felicidade.
Castells, sobre Internet e Rebelião: “É só o começo”
Os meios de comunicação passaram semanas
centrando sua atenção na Tunísia no Egito. As insurreições populares que se
desenvolveram após o sacrifício do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi, terminaram
em poucos dias com a ditadura de Bem Ali e na sequência, como peças
enfileiradas de dominó, com a “presidência” de Hosni Mubarack. Abriram-se
processos democráticos em ambos os países. Manifestantes também saem às ruas
árabes na Líbia, Iêmen, Argélia, Jordânia, Bahrain e Omã.
Em
todos esse processos, as novas tecnologias jogam um papel chave primordial — em
especial, as redes sociais, que permitem superar a censura. Ante esse desfecho
histórico, Manuel Castells, catedrático sociólogo e diretor do Instituto
Interdisciplinar sobre Internet, na Universitat Oberta de Catalunya, aprofunda
a reflexão sob o que se passa e oferece chaves para entender um movimento
cidadão que tira o máximo proveito dos novos canais de comunicação ao seu
alcance.
Os
movimentos sociais espontâneos na Tunísia e Egito pegaram desprevenidos os
analistas políticos. Como sociólogo e estudioso da Comunicação, você foi
surpreendido pela ação da sociedade-rede destes países, em sua mobilização?
Na verdade não. No meu livro Comunicação e Poder, dediquei muitas paginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a auto-mobilização da sociedade, superando as barreras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente.
As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização e isto relaciona se com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de “auto-comunicação de massas”.
Na verdade não. No meu livro Comunicação e Poder, dediquei muitas paginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a auto-mobilização da sociedade, superando as barreras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente.
As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização e isto relaciona se com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de “auto-comunicação de massas”.
Poderíamos
considerar estas insurreições populares um novo ponto de inflexão na história e
evolução da internet? Ou teríamos que analisá-las como conseqüência lógica,
ainda de grande envergadura, da implantação da rede no mundo?
As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.
As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.
A
juventude egípcia desempenhou um papel chave nas insurreições populares, graças
ao uso das novas tecnologias. No entanto, segundo os cálculos de Issandr
El Amrani, analista político independente no Cairo, apenas uma pequena parte da
população egípcia dispõem de acesso a internet. Pensa que esta situação pode
criar uma brecha – usando suas próprias palavras, entre “conectados” e
“desconectados” – ainda maior que a que se da nos países desenvolvidos?
O
dado já esta antiquado. De acordo com uma pesquisa recente (2010), da empresa
informação Ovum, cerca de 40% dos egípcios maiores de 16 anos estão conectados
à internet — se levarmos em conta não apenas as ligações domiciliares, mas
também os cibercafés e os centros de estudo. Entre os jovens urbanos, as taxas
chegam a 70%.
Além
disso, segundo dados recentes, 80% da população adulta urbana esta conectada
por celulares. E de qualquer maneira, estamos falando de um país com 80 milhões
de habitantes. Ainda que apenas um quarto deles estivessem conectados, já poderia
haver milhões de pessoas nas ruas. Nem todo o Egito se manifestou, mas uma
número de cidadãos suficiente para que se sentissem unidos, e pudessem derrotar
o ditador.
A
história da brecha digital em termos de acesso é velha, falsa hoje em dia e
rabugenta. Parte de uma predisposição ideológica de certos intelectuais
interessados em minimizar a importância da internet. Há 2 bilhões de
internautas no planeta, bilhões de usuários de celulares. Os pobres também têm
telefones móveis e existem ainda outras formas de acessar a internet. A
verdadeira diferença se dá na banda e na qualidade de conexão, não no acesso em
si, que está se difundindo com rapidez maior que qualquer outra tecnologia na
história.
Até
que ponto o poder dispõe de ferramentas necessárias para sufocar as
insurreições promovidas desde a rede?
Não
as tem. No Egito, inclusive, tentaram desconectar toda a rede e não
conseguiram. Houve mil formas, incluindo conexões fixas de telefone a numero no
exterior, que transformavam automaticamente as mensagens em twetts e fax no
país. E o custo econômico e funcional da desconexão da internet é tão alta que
tiveram que restaurá-la rapidamente.
Hoje
em dia, um apagão da rede é como um elétrico. Bem Ali não caii tão rápido,
houve um mês de manifestações e massacres. O Irã não pode se desconectar a
rede: os manifestantes estiveram sempre comunicando-se e expondo suas ações em
vídeos no Youtube. A diferença é que ali, politicamente, o regime teve força
para reprimir selvagemente sem que interviesse o exército. Porém as
sementes da rebelião estão plantadas e os jovens iranianos, 70% da população,
estão agora maciçamente contra o regime. É questão de tempo.
A
mobilização popular através dos meios digitais criou heróis da cibernéticos no
Egito — como Weal Ghonim, o jovem executivo do Google. Que papel podem
desempenhar esses novos lideres no futuro de seus países?
O
importante das “wikirrevoluções” (as que se auto-geram e se auto-organizam) é
que as lideranças não contam, são puros símbolos.
Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria, eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte se algumas destas pessoas como símbolos de mudanças — ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder. Foi estudante e amigo meu em 68, ele era um autêntico anarquista: Rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea.
Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria, eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte se algumas destas pessoas como símbolos de mudanças — ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder. Foi estudante e amigo meu em 68, ele era um autêntico anarquista: Rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea.
Walesa
foi diferente, um vaticanista do aparato sindical. Por isso, tornou-se político
rapidamente. Cohn Bendit tardou muito mais e ainda assim é, fundamentalmente um
verde, que mantém valores de respeito às origens dos movimentos sociais.
A
aliança entre meios de comunicação convencional e novas tecnologias é o caminho
a seguir no futuro, para enfrentar com êxito os grandes desafios?
Os
grande meios de comunicação não têm escolha. Ou aliam-se com a internet e com o
jornalismo cidadão, ou irão se marginalizando e tornando-se economicamente
insustentáveis. Mas hoje, essa aliança ainda é decisiva para a mudança social.
SemAl Jazeera não teria havido revolução na Tunísia.
Em
um artigo intitulado “Comunicação e Revolução”, você recordou que em 5 de
fevereiro a China havia proibido a palavra Egito na Internet. Acredita que
existem condições para que possa ocorrer, no gigante asiático, um movimento
popular parecido com o que esta percorrendo o mundo árabe?
Não,
porque 72% do chineses apoiam seu governo. A classe média urbana, sobretudo os
jovens, estão muito ocupados enriquecendo-se. Os verdadeiros problemas do
campesinato e operários — ou seja, os verdadeiros problemas sociais da China —
encontram se muito longe. O governo resguarda-se demais, porque a censura
antagoniza muita gente que não está realmente contra o regime. Na China, a
democracia não é, hoje, um problema para a maioria das pessoas, diferente do
que ocorria na Tunísia e no Egito.
Esse
novo tipo de comunicação, globalizada, atomizada e que se nutre se da
colaboração de milhões de usuários, pode chegar a transformar nossa maneira de
entender a comunicação interpessoal? Ou é apenas uma ferramenta potente a mais,
à nossa disposição?
Já
tranformou. Ninguém que esta inserido diariamente nas rede sociais (este é o
caso de 700 dos 1,2 milhões de usuários) segue sendo a mesma pessoa. Mas não é
um mundo exotérico: há uma inter-relação online/off-line.
Como
esta comunicação mudou, e muda a cada dia, é uma questão que se deve responder
por meio de investigação acadêmica, não através de especialistas em fofocas. E por isso
empreendemos o Projeto Internet Catalunha na UOC.
Podemos
dizer que os ciber-ataques serão a guerra do futuro?
Na
realidade, esta guerra já faz parte do presente. Os Estados Unidos consideram
prioritária a ciberguerra. Destinaram a este tama um orçamento dez vezes maior
que todos os demais países juntos. Na Espanha, as Forças Armadas também estão
se equipando rapidamente na mesma direção. A internet é o espaço do poder e da
felicidade, da paz e da guerra.
É o espaço social do
nosso mundo, um lugar hibrido, construído na interface entre a experiência
direta e a mediada pela comunicação, e sobretudo, pela comunicação na internet.http://www.outraspalavras.net/2011/03/01/castells-sobre-internet-e-insurreicao-e-so-o-comeco/
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