quarta-feira, 29 de maio de 2013

Mais de 70 mil acessos

Só no Brasil são mais de 60 mil acessos. Rumo ao 100 mil acessos.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Futebol e a Sociologia

Um visão sociológica do esporte mais popular do país



A sociologia é uma ciência que estuda as relações que se estabelecem entre as pessoas que vivem numa comunidade ou grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que vivem no seio de uma sociedade mais ampla. Esta definição encontramos no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

O futebol, por ser uma atividade grupal e também social, tem merecido, de parte dos sociólogos,
estudo mais profundo, para que entendamos melhor suas relações, quando se tem uma atividade social da mais alta relevância.

Em seu livro Dos Pés à Cabeça, Maurício Murad, 1997, nos mostra que "a sociologia no futebol, é
especial se inscrevendo epistemológica e metodologicamente no campo do saber da sociologia do esporte". No Brasil, começamos a dar os primeiros passos para o estudo acadêmico da sociologia do futebol, até porque em países como Alemanha e Inglaterra, as pesquisas universitárias tem sido um dos maiores e mais importantes patrimônios da cultura que servem de exemplo para nós brasileiros.

Murad relata na obra citada que "o futebol, como nossa paixão popular e esporte número um,
encena um ritual coletivo de intensa densidade dramática e cultural, em consonância com a realidade brasileira. É a combinação de simbologias, por meio das quais podemos estudar o Brasil".
Simbologia
Quase de forma antológica, Murad, diz que "o futebol é simbologia e metalinguagem, e como tal, revelador das culturas das coletividades e revelador expressivo das condições humanas. Albert Camus, Prêmio de Literatura de 1957, pensador e especialista e ainda goleiro titular do RUA de Argel, disse: "...o essencial para mim era jogar futebol: a bola era minha paixão e eu sapateava de impaciência..." E assim conseguiu transferir para sua vida prática, todos os conhecimentos obtidos no futebol, tais como: moral e obrigações que um homem deve ter.

Mauricio Murad, com muita lucidez e num momento sublime, define a bola, o objeto de desejo e
instrumento de trabalho dos jogadores de futebol, como sendo:

"De forma geométrica, sua circunferência que, de acordo com a concepção clássica dos gregos, a
forma geométrica perfeita, valor do inconsciente coletivo, suprema representação espacial, à medida que enuncia a ética da igualdade de oportunidades, pelo critério da eqüidistância, uma
vez que todos os pontos estão igualmente distantes do centro".

Esta definição e até um conceito, expressa de forma fantástica o quanto a Grécia contribuiu para
a sociologia do futebol. Este objeto tão fantástico inventado pelo homem é motivo de alegrias e frustrações dele mesmo. É tão fantástico este jogo, que qualquer um pode praticá-lo desde o "baixinho" (Romário) o "gordinho" (Maradona), pelo "alto" (Beckenbauer), pelo "torto" (Garrincha), pelo "perfeito" (Pelé), pelo "magrelo" (Sócrates), pelo "perfeito" (Didi), enfim por qualquer biótipo, por qualquer classe social, por qualquer etnia, provando e comprovando ser um esporte extremamente democrático.

Arte
O futebol, oriundo da Inglaterra, chega ao Brasil de forma elitista e racista. Proibido aos negros,
mestiços e brancos pobres, teve uma resistência enorme das classes dominantes, porém teve
que curvar-se à insistência da grande maioria menos favorecida, tornando-se o esporte-rei e
mais que isso, pela habilidade e magia de nossos atletas, um estilo de arte. Passes, dribles,
fintas, a malemolência à ginga, coisas buscadas nas danças, na própria capoeira, cultura nossa,
nos diferenciaram dos demais atletas do mundo inteiro.

Mário de Andrade, em crônicas de 1939: "Eu é que já estava longe, me refugiando na arte. Que
coisa lindíssima, que bailado mirífico um jogo de futebol! Era Minerva dando palmadas num
Dionísio adolescente e já completamente embriagado... Havia umas rasteiras sutis, uns jeitos
sambalísticos de enganar, tantas esperanças davam aqueles volteios rapidíssimos..."

O futebol, mais do que prática esportiva, é uma oportunidade prática de se exercitar a cidadania.
Portanto, mais do que constatação, interpretação e paradigma do Brasil, o futebol é proposta, é
projeto e desejo da coletividade.

Murad, destaca ainda, em sua obra, que "nada melhor que o futebol para totalizar o país, tanto
na prática quanto na teoria." Sendo que o conceito aqui exposto sobre totalidade, nada tem a ver
com aquele que remete à ideologia da democracia racial, mascaramento simbólico da realidade e
sim originário da tradição dialética. Desde Hegel, o conceito de totalidade inclui a contradição, o
antagonismo e o conflito.

Integração social
Roberto Da Matta, em Antropologia do óbvio: notas em torno do significadosocial do futebol
brasileiro, in Dossiê Futebol, Revista USP, jun/jul/ago 1994, diz "As raízes do futebol se espalham pelas esferas da realidade social, pois, diferentemente de outras instituições, o futebol reúne muita coisa na sua invejável multivocalidade. É uma estrutura totalizante em sua acepção
teórica".

Segundo Murad, para os deficientes, oferece uma gama extraordinária de chances de participação social, como meio de integração e reeducação.

Enfoca ainda outras experiências com o futebol no manicômio judiciário e sistema penitenciário,
onde grandes craques do passado, tais como Jairzinho, Afonsinho, Reinaldo, Nilton Santos, Belini
e Pelé, participaram, levando aos que ali estavam, lembranças agradáveis de momentos
importantes.

Janet Lever, em A Loucura do Futebol, Editora Record, 1983, cita que "Em uma das obras clássicas da Sociologia, Émile Dürkheim sugere que a religião é menos importante como um conjunto específico de crenças e divindades do que como uma oportunidade para a reafirmação
pública da comunidade... Apesar da ausência de vínculos sangüíneos, os homens da tribo sentem
que estão relacionados entre si porque partilham um totem. O culto a uma equipe esportiva,
como o culto a um animal, faz com que todos os participantes se tornem altamente conscientes
de pertencerem a um coletivo. Ao aceitarem que uma equipe em particular os representem
simbolicamente, as pessoas desfrutam um parentesco ritual, baseado neste vínculo comum".

Individual e coletivo
O imprevisível e a improvisação, que parecem diferentes, são marcantes no futebol.
Transportando para as relações sociais no Brasil, torna-se difícil a improvisação e as noções de
imprevisibilidade na vida diária de nosso povo.

O futebol é para os brasileiros, um misto de necessidades imediatas e práticas de luta e
obtenção de resultados e objetivos e ao mesmo tempo a expressão de alegria e da arte popular,
expressando uma sintonia entre o individual e o coletivo, dentro e fora dos gramados. Para
exemplificar o exposto acima, vejamos: "eu sou colorado" ou "eu sou gremista".

Eu = individualidade
Sou = identidade
Time = coletividade
Na Copa do Mundo, a maior comprovação sociológica, é que o brasileiro é capaz, independente
da camada social, de organizar-se nas ruas e espaços comunitários para numa ação conjunta
mostrar toda a sua cidadania.

Como modalidade desportiva mais popular do mundo, o futebol cria espaços públicos
permissíveis a experiências comunitárias sensacionais. A cultura da massa brasileira comprova
que nenhuma outra manifestação tem paralelo com o futebol.

As três instituições mais presentes na vida brasileira são um templo religioso a cadeia pública e o
campinho de futebol, independente do lugar ser pequeno, médio ou grande. Às vezes falta a
cadeia ou o templo religioso, porém o campo de futebol está sempre presente, sendo o espaço
público mais perene da vida brasileira.

Encerrando este capítulo entre a sociologia e o futebol, não estamos encerrando o jogo, com
certeza. O futebol tem tido uma estreita relação com a música popular brasileira em sua estética
com os imortais: Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues, Lamartine Babo, Tom Jobim, Gilberto Gil,
Moraes Moreira e Chico Buarque de Holanda que declarou: "Minha primeira paixão é o futebol".

O futebol e a música popular brasileira andam juntos desde os anos 30, levando o futebol para o
campo de sua poesia e fez dele protagonista ou coadjuvante de importantes letras. Músicas de
Carnaval e marchinhas falaram de futebol, pois Carnaval e futebol além de possuírem identidade
histórica, são manifestações populares das mais sérias que este país possui.

E assim podemos ainda citar o futebol na Literatura Brasileira, no cinema brasileiro, o olhar
feminino no futebol, mitos do futebol brasileiro e nosso poeta maior, Carlos Drummond de
Andrade sentenciou: "Como ficou chato ser moderno, eu agora quero ser mesmo é eterno".

Este texto é de:
Jober Teixeira Júnior é professor e titular das cadeiras de Futebol e Futsal da Facos (RS)
Comentarista da Guaiba
Coordenador da Ulbra.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu Não Quero Voltar Sozinho e a Sociologia



Realista, humano, delicado. Embora inúmeros adjetivos possam ser atribuídos ao filme, a história parte do velho clichê do amor adolescente. O curta-metragem de 2010, dirigido por Daniel Ribeiro acabou censurado no Acre, depois de ser exibido em escolas dentro do projeto Cine Educação. Os políticos da região, pressionados por líderes religiosos locais, conseguiram proibir sua exibição nas escolas, erroneamente alegando que o curta fazia parte do Kit Anti-homofobia, um material didático preparado pelo Ministério da Educação e que também acabou proibido.
A deficiência visual do protagonista, embora seja um tema socialmente sensível, passa despercebido depois que se revela o fato de que Léo se apaixona pelo colega Gabriel, que corresponde ao afeto com um beijo.
Toda a problemática do curta gira em torno da sua abordagem do tema da homossexualidade, embora seja sincera e realista. Quem está em sala de aula percebe que a história contada no filme é um relato bastante fiel daquilo que presenciamos em termos de namoro por parte dos alunos, de qualquer orientação sexual.
O que torna o filme tão “chocante”, por assim dizer, é a questão do beijo entre os meninos. Um verdadeiro tabu. À alguns anos, na novela América, os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) se revelaram homossexuais e a cena do beijo, apesar de gravada, jamais foi ao ar, devido ao fato de que este é uma imagem ainda chocante para as famílias brasileiras, apesar da frequente erotização das novelas. O beijo gay masculino choca mais do que um concurso nos domingos à tarde para escolher a “nova loira do Tchan”, onde as performances são aferidas exclusivamente pela capacidade de sincronizar o movimento de nádegas colossais ao som de música de estética duvidosa e conteúdo extremamente machista.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Problemas do Primeiro Mundo


Crianças e adultos haitianos lendo queixas cotidianas e pequenos aborrecimentos de cidadãos de países desenvolvidos postados no Twitter.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Homofobia é coisa de veado


Aquela não foi uma manhã comum no laboratório do departamento de psicologia da Universidade da Georgia, no sul dos Estados Unidos, em 1996. Desde cedo, começaram a chegar por lá os “sujeitos de pesquisa”: 64 homens, com 20 anos na média, que se declaravam heterossexuais, divididos em dois grupos. O primeiro era o dos “homofóbicos”: pessoas que tinham respondido com uma grande maioria de “sim” a perguntas como “sente-se desconfortável trabalhando ao lado de homossexuais?”, “ficaria nervoso num grupo de homossexuais?”, e “se um membro do gênero masculino se insinuasse para você, ficaria furioso?”. O segundo grupo era o dos não-homofóbicos, que haviam cravado uma grande maioria de “não”.
Os cientistas levavam os rapazes para uma sala com luz baixa, pediam que se sentassem numa cadeira reclinável e entregavam um pletismógrafo a cada um. Pletismógrafo é uma palavra que vem do grego plethynen (crescimento) e graphein (registrar, medir): “medidor de crescimento”. Trata-se de uma argola de borracha recheada de mercúrio líquido. A argola deve ser colocada ao redor do objeto que se quer medir. Se o objeto crescer, ela estica, a camada de mercúrio fica mais fina e a engenhoca registra o aumento de tamanho. O objeto a ser medido era o bilau.
Com o pletismógrafo instalado, todos assistiam a três filmes pornôs, cada um com quatro minutos de duração. O primeiro filme mostrava uma cena de sexo entre um homem e uma mulher, o segundo entre duas mulheres, e o terceiro entre dois homens. O resultado foi claro. Todo mundo registrou crescimento da circunferência de seus amiguinhos quando via o fuzuê entre homem e mulher ou entre mulher e mulher. Mas, quando o chamego era entre homem e homem, os homofóbicos registraram um aumento peniano quatro vezes maior que os não-homofóbicos. Mais da metade dos homofóbicos fica animadinha quando vê dois homens transando, contra menos de um quarto dos não-homofóbicos.
Aí os cientistas perguntavam a cada um se eles tinham tido ereção. Os homofóbicos que o pletismógrafo flagrou olhavam para os pesquisadores e respondiam, convictos: “não”.

Para resumir: homofóbicos, que são pessoas que sentem grande desconforto quando pensam em homossexualidade, frequentemente são homossexuais reprimindo suas próprias tendências biológicas. A pesquisa não foi contestada em 17 anos e suas conclusões foram reforçadas por outro teste mais preciso, realizado na Inglaterra no ano passado, com imagens cerebrais de homofóbicos.
Claro que nem todos os homofóbicos são gays: pode ser cultural ou simplesmente uma dificuldade de lidar com o diferente. Mas pessoas que nascem gays em ambientes repressivos muitas vezes aprendem a suprimir a homossexualidade e sentem raiva dela. Essa autorraiva acaba projetada para fora, contra aquilo que parece com o que se odeia em si próprio. É como escreveu o psicanalista ítalo-brasileiro Contardo Calligaris em sua coluna na Folha de S.Paulo: “quando reações são excessivas e difíceis de serem justificadas, é porque emanam de um conflito interno”.
O documentário OutRage, de 2009, mostrou como esse distúrbio psicológico afeta a política dos Estados Unidos. O filme conta a história do jornalista investigativo homossexual Michael Rogers, que resolveu se transformar de caça em caçador e foi investigar a vida de políticos ultraconservadores que votavam sempre contra direitos homossexuais. Vários deputados e senadores americanos foram flagrados, alguns com as calças na mão. Um deles, um senador respeitável com mulher e filhos, foi pego transando com um desconhecido no banheiro de um aeroporto longe de casa. É que muitas vezes o desejo reprimido acaba escapando nas ocasiões mais constrangedoras.
No começo do filme, sente-se raiva desses políticos hipócritas. Aí começam a aparecer na tela personagens cada vez mais humanos. Um dos últimos entrevistados foi um senhor inteligente chamado Jim Kolbe, deputado republicano do Arizona, que passara sua longa e produtiva carreira de político firmemente trancado no armário, sempre votando contra qualquer lei que desse direitos a homossexuais. Na década de 1990, Kolbe soube que suas escapadas homossexuais estavam prestes a serem reveladas na imprensa. Antes da publicação, ele foi a público e contou a verdade aos eleitores. “Foi provavelmente a sensação mais gloriosa que já senti na vida”, disse, feliz.
Ao contrário do que temia, a confissão não destruiu sua carreira: Kolbe reelegeu-se várias vezes até se aposentar da política em 2003, aos 61 anos, por vontade própria. Após deixar o armário, ele mudou seu jeito de votar, que passou a ser sempre a favor de que homossexuais tivessem direitos.

Talvez esses políticos de penteados milimetricamente arrumados que fazem discursos de ódio no Congresso Nacional do Brasil contra direitos gays mereçam mais compaixão que ódio. Talvez eles sejam vítimas infelizes de repressão psicológica, que perpetuam políticas de desigualdade para transferir a outros o desconforto que sentem com si próprios.
O fato é que, no Brasil, homossexuais têm menos direitos que heterossexuais – segundo uma reportagem de capa da SUPER de 2004, eram 37 direitos a menos, que afetam vários aspectos da vida, da herança aos financiamentos bancários ao imposto de renda. Que uns cidadãos tenham menos direitos que outros é uma injustiça, independente da tendência política ou religião. É premissa da democracia que todos tenham os mesmos direitos. Quem nega isso com muita convicção talvez precise entender por quê.