Blog de Sociologia do Prof° Cléber Duarte. Conteúdo voltado para as aulas desta disciplina no Instituto Olívia Lahm Hirt, em Igrejinha/RS.
"A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes."
Karl Marx
Neste mês de novembro, o blog atingiu a marca de 40.000 acessos. Obrigado a todos que vem aqui em busca de informação. É gratificante saber que o blog está em contínuo crescimento.
Os velhinhos do rock'n'roll continuam com todo o pique. Ao comemorar os 50 anos, a banda lança o excelente clipe de Doom and Gloom, com a participação da atriz Noomi Rapace, do filme Prometheus. A música apresenta diversas críticas ao mundo e estilo de vida atuais.
Doom and Gloom
I had a dream last night
That I was piloting a plane
And all the passengers were drunk and insane
I crash landed in a Louisiana swamp
Shot up a horde of zombies
But I come out on top
What's it all about?
Does it just reflect my mood?
Sitting in the dirt
Feeling kind of hurt
All I hear is doom and gloom
And all is darkness in my room
Through the light your face I see
Baby take a chance
Baby won't you dance with me
Lost all that treasure in an overseas war
It just goes to show you don't get what you paid for
Battle to the rich and you worry about the poor
Put my feet up on the couch
And lock all the doors
Hear a funky noise
That's the tightening of the screws
I'm feeling kind of hurt
Sitting in the dirt
All I hear is doom and gloom
But when those drums go boom boom boom
Through the night your face I see
Baby take a chance
Baby won't you dance with me
Yeah
Baby won't you dance with me
Oh yeah
Fracking deep for oil
But there's nothing in the sump
The kids are picking
At the garbage dump
I'm running out of water
So I better prime the pump
I'm trying to stay sober
But I end up drunk
We'll be eating dirt
Living on the side of the road
There's some food for thought
Kind of makes your head explode
Feeling kind of hurt
Yeah
But all I hear is doom and gloom
And all is darkness in my room
Through the night your face I see
Baby come on
Baby won't you dance with me
Yeah
Yeah
Baby won't you dance with me
I'm feeling kind of hurt
Baby won't you dance with me
Yeah
Come on
Dance with me
I'm sitting in the dirt
Baby won't you dance with me!!!
Destruição e trevas
Tive um sonho na noite passada
Eu estava pilotando um avião
E todos os passageiros estavam bêbados e insanos
Caí em um pântano na Luisiana
Atirei em uma horda de zumbis
Mas saí vitorioso
Qual o sentido disso?
Será que isso apenas reflete o meu humor?
Sentado na sujeira
Sentindo-me meio magoado
Tudo que eu ouço é destruição e trevas
E tudo é escuridão no meu quarto
Com a luz o seu rosto eu vejo
Baby, arrisque
Baby, você não vai dançar comigo?
Perdi tudo que valorizo em uma guerra em outro país
Isso só mostra que você não recebe pelo que paga
Que você luta pelos ricos e se preocupa com os pobres
Um professor da Faculdade Estadual do Michigan decidiu criar um curso online extra curricular para seus alunos: Sobrevivência ao Apocalipse Zumbi - Catástrofes e Comportamentos Humanos. Parece que o curso começa em maio e tem duração de 7 semanas, para divulgar melhor chegou a colocar um vídeo promocional no youtube, afirmando: " Em momentos de catástrofes algumas pessoas encontram sua humanidade, outras a perdem..." O cara deu uma entrevista a NBC, dizendo que pretende usar a metáfora dos zumbis para lecionar sociologia, demonstrando como as pessoas se comportam em tempos de crise, assim como o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA fez no ano passado, quando publicou um HQ com a temática zumbi para ensinar as pessoas como lidar com situações de emergência. Vídeo promo da aula:
Vestir uma fantasia e sair por aí combatendo o crime. É o sonho de infância de muitas pessoas, incluindo a minha. Para a maioria, é algo totalmente ridículo, mas para quem cresceu lendo Histórias em Quadrinhos ou vendo seriados de tv e desenhos animados sobre super-heróis, a ideia de levar uma vida mais emocionante, como um vigilante combatente do crime, chega a ser muito interessante. Ao menos viver em um mundo onde os super-heróis existam já seria o suficiente para essas pessoas.
Os vigilantes mascarados retratados na ficção são símbolos de justiça, ética e, acima de tudo, esperança. Como nerd que sou, imagino que o mundo insosso no qual vivemos, repleto de corrupção e injustiças, seria muito mais interessante de se viver com a presença de pessoas motivadas a combater o mal ativamente, independente de leis ou regras formuladas muitas vezes por aqueles que às infringem.
Pois é, para a surpresa de muitos, inclusive a minha, eles existem. No melhor estilo Kick-Ass e Watchmen, os heróis fantasiados existem no mundo real. E eles estão espalhados em vários lugares do mundo, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra.
O que é preciso para ser um super herói da vida real? Segundo o site Worldsuperheroregistry.com , é uma pessoa que pratica boas ações ou combate o crime enquanto está fantasiado como um super-herói. Eles existem de verdade e tem perfis em redes sociais e sites de relacionamento, mas por que é que alguém ia se meter em uma fantasia e se chamar de “super herói da vida real”? Segundo eles, são vários os motivos. Cada um tem o seu, mas a maior parte deles quer inspirar outras pessoas a fazerem o que eles fazem – não necessariamente com máscara – quer divulgar uma ideia ou atitude que considera correta ou acha que este é um meio mais divertido de fazer serviços sociais.
Claro que existem algumas limitações, mas a ideia é legal. As crianças tendem a prestar mais atenção numa pessoa fantasiada de super herói do que em um ser humano normal.
E quem pode ser um super herói na vida real? Na verdade, qualquer pessoa pode ser. É preciso, porém, atentar para alguns detalhes – você tem que ser um super herói com atividades heroicas documentadas e não pode revelar sua identidade de jeito nenhum.
Conheça alguns dos super-heróis da vida real.
Phoenix Jones
Phoenix Jones patrulha as ruas de Seattle, nos EUA, com o objetivo de ajudar a combater o crime. Além dele, mais nove heróis mascarados já foram identificados pela polícia da cidade. Muitos são parados por cidadãos que pedem autógrafos, mas Phoenix Jones diz que não é isso que o motiva.
Phoenix tem até um esconderijo. Dentro de uma loja de quadrinhos, ele tira as roupas de civil comum, veste um uniforme à prova de balas, pega a arma de eletrochoques e gás lacrimogênio, e sai patrulhando as ruas da cidade para evitar que crimes aconteçam.
Recentemente, o herói esteve envolvido em uma confusão, e acabou preso. Ele compareceu de máscara na audiência no tribunal e foi obrigado a revelar sua identidade secreta. Seu nome verdadeiro é Ben Fodor. Ele também é conhecido por ser lutador de MMA (artes marciais mistas).
Statesman patrulha as ruas de Birmingham, na Inglaterra. O herói é um executivo de banco que decidiu ajudar a combater o crime na cidade inglesa. Ele afirma que tenta equilibrar a impopularidade de seu trabalho durante o dia salvando pessoas à noite, segundo a agência "Barcroft Media" e se vangloria de ter ajudado a prender um traficante e a frustrar um assalto. Para exercer suas atividades secretas durante a noite, o "super-herói" diz para amigos e familiares que tem jogos de pôquer quatro vezes por semana.
Flecha Negra
Depois do surgimento de statesman, o jornal inglês "The Sun" descobriu, pelo menos, 16 "heróis" da vida real na Inglaterra. O grupo conta, inclusive, com uma mulher, a "Flecha Negra", que se dedica a salvar animais de estimação de abusos. Ela esconde sua identidade com uma máscara.
Ghost é um super herói de Salt Lake City, nos EUA e ele faz parte do Black Monday Society. Para ele, não importa se as pessoas riem deles - o que importa é que eles estão nas ruas, fazendo justiça.
Com um escudo e um visual parecidos com o do Capitão América, Menganno vem patrulhando de moto as ruas da parte leste da cidade de Lanús, na Grande Buenos Aires, há mais um ano e dando conselhos de cidadania.
Death´s Head Moth é uma figura bem conhecida na Comunidade do super-herói da vida real. Ele combate o crime e ajuda os desfavorecidos. Ele às vezes atua com outras equipes de Super-heróis e é um membro ativo do grupo Great Lakes Heroes.
SuperHero tem vários treinamentos na Marinha dos EUA, Academia de polícia, além de ser lutador de boxe. É um super-herói da vida real cujas ações foram sancionadas pela polícia de Clearwater. Além de ajudar a polícia na cidade, atua nas estradas, onde já salvou a vida de várias vítimas de acidente de carro.
A série americana que bateu todos os recordes de audiência da TV a cabo na terra do Tio Sam, The Walking Dead, uma adaptação cinematográfica das histórias em quadrinhos de Robert Kirkman vem conquistando fãs brasileiros e traz alguns elementos interessantes para discutirmos a representação da vida pós-apocalíptica. Para quem nunca assistiu, o enredo principal é o seguinte: o protagonista (xerife de uma pequena cidade) acorda de um coma e se depara com o hospital e a cidade vazia. Ele descobre que um surto – sabe-se lá do quê –infectou quase toda a população e as pessoas que morreram viraram zumbis, restando apenas poucos sobreviventes agora. Sem energia e sem telecomunicações o mundo vira um caos e qualquer barulho pode atrair uma população de zumbis que arrancam suas tripas a luz do dia. Em um dos episódios ele consegue encontrar sua família (mulher e filho) que estão junto de um grupo de pessoas buscando o apoio mútuo como fator de sobrevivência.
Os sobreviventes habitam agora o cenário depois do apocalipse, e que parece bem pior do que o juízo final cristão. Aliás, tal lugar é a inversão dos sonhos revolucionários. O “novo” é bem pior do que o antigo. A Nova Jerusalém dos cristãos (ou o comunismo) passa mais próxima da descrição do Inferno de Dante. Mas nem tudo mudou. A sociedade ainda tem classes. E são duas: os vivos e os mortos-vivos. Os vivos são a minoria nada privilegiada agora, mas a guerra (a luta de classes) continua.
A rediscussão dos valores “humanos” é significativamente enfatizada na série. Num mundo assim (como o nosso?) ser “bonzinho” pode representar a morte. Esse aspecto é bem trabalhado quandoum avarento recusa comida a recentes (des)conhecidos e, também, quando o fazendeiro reluta em abrigar o grupo em sua casa. Esse mesmo fazendeiro é também um veterinário metido a médico que acredita que os membros de sua família que viraram zumbis não morreram, mas só ficaram doentes, por isso ele “guarda” dentro do celeiro seus familiares “doentes” e outros zumbis que entram em sua fazenda. O ponto de vista dele nos põe a pensar melhor sobre a possibilidade de salvar aquelas pessoas antes de liquidá-las de vez com um tiro na cabeça e ressalta também nosso apego ao corpóreo. É interessante porque os espectadores da série não aceitam tamanha “burrice” (altruísmo?) do médico-veterinário. A maioria dos personagens da série pensa igual. Mas existe um senhor no grupo que questiona se os vivos já não perderam sua humanidade há muito tempo e se não ficaram tão cruéis quanto os zumbis que querem seu sangue.
O princípio do bem-viver (ética) e os valores morais religiosos já não valem mais nada nesse horizonte, representam antes um atraso onde o maquiavelismo passa a ser a bola da vez. E de fato, o público passa a admirar o mais maquiavélico, o anti-herói, que é representado por Shane, amigo do xerife, também um ex-policial que num dos episódios “mata um vivo” para servir de isca para os zumbis e enquanto ele pode escapar ileso.
A verdade é que a mudança das condições no ambiente favorecem aspectos da personalidade antes considerados problemáticos, como a agressividade e a frieza para matar. Os anormais se tornam normais. Trazendo para nossa realidade podemos exemplificar o caso das pessoas com Síndrome de Down, sabe-se que elas possuem um cromossomo a mais, num determinado par que faz com que sejam sexualmente estéreis, mas em determinadas condições ambientais onde a emissão de radiação é maior a situação muda de figura, pois nesses casos são eles que podem reproduzir e, nós os normais, só assistiremos a perpetuação da espécie. A biologia postula que essa criação é como um plano B da espécie humana. Contudo, no caso de Shane, o aspecto é muito mais cultural do que biológico, desde o primeiro episódio ele apresenta traços históricos significativos de potencialidade para matar.
A questão da solidão também é algo para se pensar no mundo “pós-fim do mundo”. Afinal, os casais ficam bastante propícios para se apaixonarem e para fazer sexo, é claro. É o que acontece com um casal que relembra a piada de Adão e Eva no paraíso. “Existem poucas pessoas no mundo e nunca se sabe quando morreremos, então é melhor gastarmos essa caixa de camisinhas logo” - a moça bonita diz para o entregador de pizzas coreano.
Por que a série nos atrai tanto? Acredito que pelo fato dela expor de maneira extrema e caricatural a sociedade contemporânea na luta pela sobrevivência do mais esperto, utilizando seja quaisquer armas disponíveis. A ausência das leis e a descrença na religião exacerbam o desejo pela ausência de punição e controle em nossa sociedade disciplinar onde não existe mais umsuper-ego castigador e a consciência está livre (para matar?). Em contrapartida, essa sociedade de The Walking Dead pode ser lida como o inverso também, como aquela que nos atrai por mostrar quão mais animada pode ser a vida longe da apatia cotidiana que nos cerca. Seríamos então nós os zumbis dos tempos safados? Parasitas se alimentando do sangue dos outros e perambulando pelas avenidas movimentadas como seres desprezíveis. Será que nos reconhecemos nos zumbis ou nos vivos?
Mesmo os personagens se questionando se vale a pena estarem vivos num lugar desses e alguns escolhendo o suicídio, existe um determinado princípio básico continua valendo para os dois mundos: a autopreservação da vida. Bergson conta que o organismo vivente faz de tudo para se manter vivo, que ele reluta mesmo diante da escolha “cultural” (ou psicológica) de se aniquilar. Diz-se que alguém que tenta suicídio por enforcamento só morre se não houver possibilidade alguma do organismo se salvar mesmo que o cérebro não queira. Se por acaso os pés tocarem no chão um pouco que seja, o suicida pode desmaiar e recuperar a consciência logo depois. A vida nua (zoé), ou seja, a vida despossuída de cultura faz de tudo para manter sua sobrevivência. Mas a vida cultural às vezes joga contra o instinto. É o caso do suicídio que Durkheim classificou bem toscamente de egoísta, altruísta e anômico. Todos culturais. Não se sabe de animais que se suicidam.
Em algumas culturas a desonra pode levar o indivíduo à escolha do suicídio (como o haraquiri e a falência financeira), a luta pela nacionalidade ou por uma causa (os kamikazes, os homens-bombas, os regicidas confessos, os auto imolados e o recente caso do cidadão grego), a morte de alguém ou desilusão por algo que com o qual escolheu levar vida em função (o caso do marxista André Gorz que cometeu suicídio após a morte da esposa), mas uma situação em especial chama muito a atenção: o suicídio coletivo. Tenho dois exemplos ilustrativos. O caso dos índioskaiowas (no centro-oeste do Brasil), que suicidaram em protesto às invasões dos brancos em suas terras e a impotência diante da situação, tal acontecimento mereceu referência numa musica da banda Sepultura (irônico e trágico). Agora, sem dúvida, o mais espantoso, que chamou atenção de todo o mundo, foi o obscuro suicídio coletivo na Guiana inglesa em 1978, onde a participação de um líder religioso, Jim Jones (imagem a esquerda), foi preponderante. As centenas de corpos espalhados no chão lembram o cenário de The Walking Dead. E o que seria de nossas crenças religiosas e científicas se eles resolvem levantar? Fiquem com o vídeo do suicídio coletivo da Guiana que por ser “real” incomoda muito mais que o terror fictício.