quinta-feira, 28 de outubro de 2010

WikiLeaks derruba a máscara do imperialismo

Uma das lendas mais notórias das guerras contemporâneas do imperialismo é a alegação de que as ações bélicas são “cirúrgicas”, “pontuais”, e evitam ataques e sofrimentos para a população civil.

Só os iludidos acreditam nisso. A mídia partidária do imperialismo não consegue esconder em seus noticiários as graves violações cometidas contra os povos; mesmo quando não são ditas palavras, as imagens publicadas sugerem a barbárie que o imperialismo faz questão esconder.

Desde julho, quando a página eletrônica WikiLeaks começou a divulgar documentos secretos, elaborados pelos soldados da tropa de ocupação do Iraque e do Afeganistão, pode-se ver com mais precisão a extensão do “moinho satânico” que o imperialismo impõe aos povos. Naquela ocasião, os documentos divulgados relatavam agressões contra a população civil e ações militares à margem da legislação internacional (que configuram, portanto, crimes de guerra) cometidos pelas tropas de ocupação comandadas pelos EUA principalmente no Afeganistão.

Desta vez, o enorme volume de documentos secretos do Pentágono (92 mil páginas) divulgados na semana passada pela WikiLeaks relata atrocidades cometidas durante a ocupação do Iraque, desde 2004 a 31 de dezembro de 2009.

São relatos escritos por militares das tropas de ocupação que descrevem um roteiro selvagem e desumano, que inclui o assassinato de civis numa escala muito superior à admitida oficialmente pelo governo de Washington e torturas generalizadas contra prisioneiros, praticadas por todos os agressores: soldados do Exército dos EUA, mercenários contratados para “segurança” dos comandantes da guerra e também pelo exército iraquiano formado e treinado pelos ocupantes de seu país.

Um exemplo da barbárie dos invasores foi o massacre, cometido em 16 de agosto de 2007 contra um povoado; um grupo de soldados das tropas de ocupação resolveu vingar-se de um ataque e bombardeou a população indiscriminadamente. Explodindo uma casa onde ocorria uma festa de casamento; seis pessoas morreram (entre elas quatro mulheres e um bebê) e três ficaram feridas (todas mulheres, uma grávida de nove meses).

Os documentos revelam a pratica sistemática de torturas (surras, choques elétricos, metais incandescentes, afogamentos) contra os prisioneiros, inclusive mulheres, cometidas também pelos três pilares da ocupação – as tropas invasoras, os matadores profissionais contratados por empresas de segurança como a Blackwater, e o exército pró-EUA do governo do Iraque.

Ações desse tipo, segundo o editor Julian Assange, do WikiLeaks, recheiam os relatórios secretos do Pentágono, e há descrição detalhada do assassinato de 2.000 iraquianos.

O lote de documentos agora publicados revela também que os militares dos EUA tentaram esconder a morte de 15 mil civis iraquianos. Ele revela um número total de 109 mil mortes, entre as quais 15 mil que nunca haviam sido reveladas!

A condenação das guerras constitui um clamor civilizatório antigo. A repulsa a agressões imperialistas cresceu, ao longo do século 20, depois das barbáries que a máquina de guerra nazista cometeu contra os povos. No início do século 21, é inaceitável que ações agressivas dessa natureza continuem sendo impostas aos povos que não aceitam submeter-se aos desígnios do imperialismo. Hoje, as atrocidades são cometidas sob a bandeira listrada dos EUA, com os mesmos objetivos predatórios de sempre: a submissão dos povos, a pilhagem de suas riquezas e o alcance de um arranho geopolítico mundial favorável à manutenção do mando imperial.

E impõe, como lembra o responsável pela revelação da brutalidade imperialista no Oriente Médio, Julian Assange, a única saída para o início da reconstrução da vida naquelas nações: a retirada das tropas de ocupação, que foram enviadas para lá com base em argumentos mentirosos e continuam lá à base de alegações falsas. Depois das revelações dos documentos secretos da barbárie, não há mais nenhuma justificação aceitável para que aquelas tropas continuem lá.

domingo, 24 de outubro de 2010

Qual projeto?

 Artigo publicado no blog Bola de Meia, Bola de Gude http://bolademeiaboladegude.blogspot.com/, da deputada Manuela D'Ávila.

No futebol, muitas vezes nosso time joga pelo empate. Na política não existe esse resultado. Aqui no Rio Grande encerramos o campeonato local, o Gauchão: elegemos Tarso governador, com um projeto de desenvolvimento local que uniu forças políticas e a sociedade. Garantimos a reeleição de nosso Senador Paulo Paim, metalúrgico comprometido com os direitos dos trabalhadores aposentados e ativos. O meu partido teve um ótimo resultado. Nossos aliados também. Posso afirmar que vencemos o campeonato. O gauchão é importante. Mas, colorados e gremistas sabem que existem campeonatos ainda mais relevantes. É precisamente esse o caso das eleições presidenciais. Mais do que um campeonato Brasileiro, estamos em uma batalha que tem significado para a América e para o mundo.
Mais de dez dias já passaram no segundo turno. O time adversário, joga da mesma forma das equipes de futebol que apelam para o vale tudo. Chuta canelas, comete sistemáticas faltas. Baixa o nível do debate. O que Serra quer para a educação? Qual papel do nosso sistema educacional no projeto de desenvolvimento nacional? Qual desenvolvimento Serra defende? Aquele submisso as grandes potências em decadência? Aquele que não distribui renda, não diminui a miséria, não aumenta o número de empregos? Quais relações que o Brasil manterá com seus vizinhos? A grande potência aliada aos EUA? Como garantirá saúde para os brasileiros? Com mutirões eventuais? Como será a exploração do petróleo? Privatizada? O time adversário não responde. Ataca, chutando as canelas. Traz para o Brasil valores que não são marcas de nossa sociedade, que convive de maneira fantástica com a diversidade religiosa. Porque escondem o verdadeiro jogo? Porque não tem? Não. Porque não é o jogo que o povo brasileiro quer. Nosso povo viu o Brasil mudar. Viu que nosso destino não era ser uma “semi-nação” como queria Fernando Henrique. Que podemos ser grandes e nos relacionar de maneira independente com todos os países do mundo. Viu que é possível ver um filho de trabalhador na universidade pública ou no PROUNI, viu que é possível ter a carteira assinada, ter luz em casa, ter casa!
Eles escondem o jogo. Nós temos a obrigação de jogar bonito. Não podemos cair na provocação. Não chutaremos canelas daqueles que nos chutam. Porque temos o que mostrar. Nosso jogo é o jogo do projeto. Nós mostramos que a universidade pública não precisava ser privatizada. Aliás, dobramos as vagas nas universidades e hoje, elas estão produzindo conhecimento para libertar tecnologicamente o Brasil. Nós democratizamos o conhecimento, quando permitimos que mais de meio milhão de jovens ingressassem no Ensino Superior com o PROUNI e criamos Escolas técnicas em todo o país. Nós geramos 14 milhões de empregos num momento em que o mundo vivia sua maior crise econômica! Nós defendemos que o Estado tenha papel no desenvolvimento do País e criamos o PAC, garantindo infra-estrutura. Nós criamos o Minha casa, minha vida, o Luz para todos. Mas sabemos que mais luz e casa, esses programas garantem dignidade para as famílias. Nós não vendemos a Petrobras. Também não mudamos o nome de nossa maior estatal para “PETROBRAX”. Mas mais do que isso, nossa empresa pública foi decisiva para descobrirmos o Pré-sal. E nós queremos que esse recurso seja público, para transformarmos nossa educação de maneira estruturante, para garantir mais desenvolvimento, mais distribuição de renda.
Esse é o nosso jogo. O jogo de quem carrega sonhos, projetos. O sonho de quem sabe jogando bonito também se vence campeonato.
Agora, faltam quinze dias para as eleições. A bola está com cada brasileiro comprometido com o Brasil desenvolvido, solidário, soberano. Conversem, mostrem o que fizemos. Essa vitória é mais importante do que qualquer campeonato. Ela é decisiva para nosso país seguir mudando.

A juventude deixou de ser invisível

Artigo de Anderson Campos, assessor da Secretaria Nacional de Juventude da CUT e autor do livro "Juventude e Ação Sindical: crítica ao trabalho indecente", publicado no Blog do Miro http://altamiroborges.blogspot.com/
 
“Eu vou no bloco dessa mocidade/
Que não tá na saudade e constrói/
A manhã desejada”. Gonzaguinha.

O governo Lula e Dilma foi um marco histórico para consolidar a juventude como sujeito de direitos no Brasil. Hoje, a juventude consta na Constituição Federal ao lado de crianças e idosos. Devem possuir direitos garantidos por lei.

A juventude foi tratada durante o governo Lula/Dilma de forma completamente diferente do governo FHC/Serra. É mais um motivo para demonstrar de que lado a juventude está.

Durante o governo FHC/Serra, a juventude era caso de polícia. Era um problema relacionado à violência nos centros urbanos e às drogas.

No governo Lula/Dilma, foi instituído o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Mais de 11 mil jovens estão sendo formados como multiplicadores da cultura de paz, atingindo mais de 400 mil jovens.

Durante o governo FHC/Serra, foi criada apenas uma universidade pública. No governo Lula/Dilma, foram criadas 14 novas universidades e 117 campi/unidades. O número de vagas em graduação presencial aumentou de 106,8 mil em 2003 para 195.3 mil em 2009.

Durante o governo FHC/Serra, acelerou-se o processo segundo o qual só poderia ter acesso à universidade quem pudesse pagar por ela. Os tucanos privatizaram, assim, o ensino superior brasileiro.

No governo Lula/Dilma, mais de 700 mil jovens entraram na universidade via ProUni, fecharemos 2010 com 214 novas Escolas Técnicas, com 500 mil vagas em todo o país. As vagas nas universidades públicas federais deve atingir um crescimento de 100%, chegando a 250 mil esse ano.

Durante o governo FHC/Serra, foi criada Desvinculação das Receitas da União (DRU), que retirava cerca de R$ 10 bilhões de reais por ano do orçamento do Ministério da Educação (MEC).

No governo Lula/Dilma, acabou a DRU da educação e o orçamento do MEC representa hoje o equivalente a três programas Bolsa-Família.

Durante o governo FHC/Serra, a juventude foi responsabilizada por sua própria situação de desemprego e pobreza. O individualismo foi promovido como única alternativa.

No governo Lula/Dilma, foram criados diversos programas sociais voltados para a inclusão social não limitada à questão do emprego. Os programas de transferência de renda estão relacionados ao acesso à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, à participação cidadã. O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) é hoje o principal programa de articulação entre o combate ao desemprego juvenil, a elevação da escolaridade e a participação cidadã.

Durante o governo FHC/Serra, a precarização do trabalho juvenil atingiu recordes. Os salários dos jovens é, em média, metade dos adultos. As suas jornadas de trabalho semanais impedem a possibilidade de estudar. Os jovens são maioria entre os que não possuem previdência social nem qualquer direito trabalhista garantido pela carteira assinada. Por exemplo, houve um crescimento recorde no número de estagiários no país, que são estudantes contratados precariamente como mão-de-obra barata.

No governo Lula/Dilma, foi iniciada a formulação de uma Agenda Nacional de Promoção do Trabalho Decente para a Juventude e foi convocada a realização da I Conferência Nacional de Trabalho Decente e Emprego. É a oportunidade que a juventude brasileira tem de dizer onde e como quer mudar a sua situação no mercado de trabalho no país.

Durante o governo FHC/Serra, não existia política pública para juventude rural. Os movimentos do campo eram tratados como criminosos e duramente reprimidos. No governo Lula/Dilma, a juventude rural tem uma política nacional de acesso à terra e ao crédito e investimento na participação nos movimentos. Mais de 40 mil jovens são donos da própria terra, via Programa Nossa Primeira Terra e mais de 24 mil jovens são beneficiados pelo crédito produtivo do Pronaf Jovem.

Durante o governo FHC/Serra, a juventude foi afastada do acesso aos bens culturais e apenas os empreendimentos comerciais recebiam incentivo público. No governo Lula/Dilma, foi criado o programa Cultura Viva, que hoje conta com mais de mil Pontos de Cultura em todo o país.

Durante o governo FHC/Serra, a juventude era recebida em Brasília com balas de borracha, cães e tropa de choque. No governo Lula/Dilma, foram realizadas conferências e encontros, instituído o Conselho Nacional de Juventude, a Secretaria Nacional de Juventude e hoje Brasília tem sido sede dos principais eventos de juventude do país e da América Latina.


 Durante o governo FHC/Serra, foi estimulado o voluntarismo de jovens como alternativa ao sucateamento da educação pública, promovida pelos próprios tucanos. No governo Lula/Dilma, houve investimento público na participação popular para elevar a capacidade de formulação, organização e mobilização social da juventude em busca de direitos. Exemplo é o investimento feito pelo governo Lula/Dilma na criação dos Coletivos de Juventude e Meio Ambiente, espalhados pelo Brasil e que veio a constituir a Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA), um movimento autônomo.

Nos anos 1990, a juventude balança as bandeiras nas campanhas eleitorais. Em 2010, a juventude elabora sua própria plataforma, o Pacto pela Juventude, e vai às ruas, mostrando sua cara e sua posição política na disputa entre os dois projetos: queremos que o Brasil siga mudando, com Dilma Presidenta. Avante juventude brasileira!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Donos do Mundo

Capitalismo Selvagem

O caso Neymar

Escrito por Frei Betto   
06-Out-2010
 
Neymar tem 18 anos de idade. É uma revelação como jogador de futebol. Joga pelo Santos, o mesmo time que projetou Pelé. E joga bem, muito bem. A diferença entre ambos é que Pelé procedia com educação em campo.
 
Neymar é rebelde. Não entra apenas para jogar. Entra para lutar: xinga o técnico, os adversários, até os parceiros de time. Neymar tem pavio curto. Age na base do olho por olho, dente por dente. Não se conforma de a bola não ser só dele.
 
O então técnico do Santos, Dorival Júnior, em seu papel de educador (como todo técnico deveria fazer), puniu Neymar por mau comportamento. Por falta de ética, suspendeu-o de jogo. De um jogo importante, contra o Corinthians, dia 22 de setembro. A diretoria do Santos, em vez de apoiar o técnico, decidiu apoiar Neymar. Foi como se a escola expulsasse o professor ofendido pelo aluno.
 
Dorival Júnior foi demitido e Neymar escalado para o jogo contra o Corinthians. Adiantou pouco. O Corinthians ganhou por 3 x 2.
 
Mano Menezes, técnico da seleção brasileira, fez o que o Santos deveria ter feito: puniu o jovem atleta. Mostrou-lhe os limites. Se Neymar quer ver seu talento brilhando nos jogos, terá que aprender a dominar sua fúria. Aprender a saber perder. E admitir que ele pode muito. Mas não pode tudo.
 
O futebol já foi esporte. Hoje, é competição. Já foi arte. Hoje, é violência. Já foi fator de integração social. Hoje, acirra disputas entre torcidas enfurecidas. Os estádios, em dia de jogo, parecem penitenciárias em dia de visitas. Policiais por todos os lados, torcedores revistados, armas apreendidas.
 
Os jogadores mais se parecem atletas de luta livre. Entram em campo para trucidar o adversário. Predomina a agressão verbal e física. As faltas não resultam da disputa de bola. São premeditadas e visam a imobilizar o adversário, de preferência mandá-lo para fora de campo ou mesmo para o hospital.
 
Os valores democráticos são negados pelo ethos guerreiro do futebol que se pratica hoje. Os times entram em campo imbuídos de espírito revanchista. Por trás de cada jogador há o jogo de poder dos cartolas. Os atletas valem pelo que representam monetariamente. São tratados como produtos de exportação. E, num mundo carente de heróis altruístas, eles ocupam o vácuo. São idolatrados, invejados, imitados.
 
Na cabeça de milhares de crianças e jovens, eis um modo de se tornar rico e famoso sem precisar dar duro nos estudos. Basta ter a habilidade de fazer a bola obedecer à vontade que se manifesta nos pés.
 
Gigante adormecido não é apenas o Brasil. É também a nossa seleção, desde a conquista do pentacampeonato. Agora ela acorda. Acorda para a Copa de 2014, que terá o Brasil como palco. Alguns bilhões de dólares estão em jogo. Por isso, o que parece uma simples partida entre dois times é, para cartolas e investidores, um laboratório destinado a transformar gatos em leões.
 
O Brasil não pode em 2014 repetir o vexame de 1950. Naquela Copa, no jogo final, em pleno Maracanã, o Uruguai ganhou do Brasil por 2 x1. Naquela época o futebol ainda era esporte. Os estádios não se pareciam a coliseus nem os atletas a gladiadores. E os cartolas torciam mais por seus times que por suas contas bancárias.
 
Bons jogadores não brotam de um dia para o outro. São preparados desde a infância. Os clubes mantêm escolinhas de futebol. Muitas exigem dos alunos freqüência à escola formal e boas notas. Isso é bom. Mas não suficiente. Essas crianças deveriam também aprender o que significa ética nos esportes. Valores e direitos humanos. Para que, mais tarde, alucinadas pela fama e a fortuna, não se transformem em monstros suspeitos de cumplicidade com traficantes e de homicídios hediondos.
 
Alguém já refletiu em que medida o bullying, que tanto assusta as escolas, é reflexo do que se passa em nossos estádios? Onde falta educação campeia a perversão. Se a lei do mais forte é o que predomina aos olhos da multidão, como esperar uma atitude diferente de crianças e jovens carentes de exemplos de generosidade e solidariedade?
 
Nosso futebol, tão bom de bola, não estaria ruim da cabeça? Não teria se transformado num imenso cassino monitorado por quem angaria fortunas? Faz sentido, num país civilizado, atletas, símbolos de vida saudável, posarem de garotos-propaganda de bebidas alcoólicas?
 
Há que escolher entre Olímpia e Roma, maratona e coliseu. E conhecer a diferença entre os verbos disputar e aniquilar.
 
Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto – autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros.www.freibetto.org – twitter:@freibetto  
Copyright 2010 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária ( mhpal@terra.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email ).

Muito além do fenômeno: Manuela bate Manuela

Depois de bater os 271.939 que consagraram sua primeira eleição para a Câmara dos Deputados (482.590) Manuela dÁvila - PC do B vai encarar, aos 29 anos, seu segundo mandato federal com maior maturidade e também ainda mais responsabilidade.
Afinal, terá de superar a expectativa de um contingente maior ainda. Deputada do PC do B supera votação obtida em 2006 e faz história ao se tornar a parlamentar mais votada do Estado
– Uma boa votação reforça as convicções, o que é muito positivo. Mostra que não se trata apenas de um fenômeno, que o mandato correspondeu às expectativas da população. Amadureci muito, pessoal e politicamente, estou muito mais preparada – afirmou Manuela no início da noite de ontem, com o ruído da festa no comitê eleitoral ao fundo.
Jornalista formada pela PUCRS, Manuela começou sua carreira na política estudantil, na União da Juventude Socialista e na União Nacional dos Estudantes. Duas vezes deputada federal mais votada antes dos 30 anos, tem discurso articulado para explicar como concilia a vaidade pessoal com a necessidade de provar que é mais do que um rostinho bonito no Congresso:
– Todas as mulheres profissionais têm de superar a cultura machista, sejam jornalistas, juízas, delegadas.
Mas não sufoca a espontaneidade da juventude durante a primeira conversa que perscruta seu sentimento diante de votação tão expressiva.
– Me desculpa se eu chorar, mas és a primeira pessoa com quem eu falo, não falei nem com minha mãe ainda – confessa à repórter.
A militante elevada à condição de musa do Parlamento conta que enfrentou preconceito muito maior em Brasília do que estava habituada a lidar no Estado:
– Ir para Brasília foi uma experiência política e pessoal muito intensa. Enfrentei um ambiente muito mais árduo do que estava habituada na Câmara de Vereadores.
Depois de acentuar a defesa dos jovens – considera a Lei do Estágio a maior marca em seu primeiro mandato –, Manuela pretende marcar a nova jornada pela atuação na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Isso significa que, passada a eleição, deve defender a redução de jornada sem redução de salário, proposta que não tem apoio da sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff.
– É uma área nova para mim, é um trabalho que quero manter. A questão da divergência é só quanto a como fazer. Ninguém quer de forma atabalhoada, é preciso um debate entre o setor produtivo e os trabalhadores.
Pouco deve mudar para Manuela no segundo mandato. Só espera uma trégua na vida pessoal, que ficou muito exposta durante o relacionamento de dois anos com o colega deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), agora um dos coordenadores da campanha de Dilma. Manuela diz já ter novo par, mas perguntada sobre as credenciais, desconversa:
– É meu namorado, só.
Maior até que o deputado Zambiazi
A eleição proporcional tem um novo recorde. Com a votação de Manuela D´Ávila, caiu a marca obtida por Sérgio Zambiasi na eleição para a Assembleia em 1986. Naquela época, concorrendo pelo PMDB, teve uma votação de 365.381

do Jornal Zero Hora 04/10/2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Com campanha empolgante, Manuela faz quase 500 mil votos

Eleita há quatro anos atrás com cerca de 270 mil votos, a deputada federal do PCdoB-RS chegou a reeleição á Câmara dos Deputados com 482.590 votos nestas eleições de 2010. A deputada mais votada do estado fez uma campanha empolgante. Além dos bons programas de TV, valorizou o espaço das redes sociais e ganhou apoios criativos, como o vídeo "viiviquines", uma paródia do Carolina do seu Jorge com letra inteligente de apoio a Manu.

domingo, 3 de outubro de 2010

Maria Rita Kehl: A desqualificação do voto do pobre

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos.

por Maria Rita Kehl no O Estado de S.Paulo

Este jornal (Estadão) teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Como se elegem os deputados?

A eleição de deputados, assim como a de vereadores, é chamada de proporcional  
21/09/2010
Matheus Lima

A eleição de deputados, assim como a de vereadores, é chamada de proporcional. Este texto pretende explicar como funciona a eleição proporcional.

O estado de São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 deputados federais. Não serão necessariamente os 70 mais bem votados que serão eleitos. A conta funciona do
seguinte modo.

O total de votos válidos é dividido pelo total de vagas para se chegar ao quociente eleitoral. São considerados votos válidos os votos nominais - no número do candidato
- e os votos de legenda - no número do partido. Brancos e nulos são inválidos e não contam. A votação para os demais cargos - presidente, governador, senador e deputado estadual - não interferem em nada na eleição para deputado federal, cada eleição é independente uma da outra.

Se houver
em São Paulo 21 milhões de votos válidos, o quociente eleitoral será de 300 mil votos (21 milhões dividido por 70 é igual a 300 mil). Somente os partidos,
ou coligações, que alcançarem o quociente eleitoral, 300 mil votos, têm direito a eleger deputados.

Os partidos podem se coligar. Na prática, isso significa que os partidos coligados formam um único partido para a eleição. A votação da coligação é a soma de todos os
votos nominais e de legenda. O voto na legenda não é contado somente para os candidatos daquela legenda, mas para todos os candidatos da coligação. Os partidos
podem ter diferentes coligações para os diferentes cargos. O PA pode se coligar com o PB para a eleição de deputados federais e com o PC para a eleição presidencial.

Vejamos a seguinte situação. A coligação Azul fez 310 mil votos, superando assim o quociente eleitoral. João, o seu candidato mais bem votado, que teve 100 mil votos,
será eleito. José, da coligação Amarela, obteve 150 mil votos, porém, o total de votos da coligação foi de 280 mil, não superando assim o quociente. José não será
eleito, mesmo tendo mais votos do que o João.

Outra situação. A coligação Verde, que é formada pelo Partido X e o Partido Y, obteve 900 mil votos e pode eleger 3 deputados. Os votos na legenda PX totalizaram
400 mil. Porém, os 3 candidatos mais bem votados da coligação são do PY. Deste modo, nenhum candidato do PX será eleito mesmo a legenda PX tendo obtido mais votos do que o quociente eleitoral.

Nesta eleição, de 2010, o PT está coligado com vários partidos, entre eles o PR, do palhaço Titirica. Isso significa que todos os votos do palhaço e do PT - nominais e
de legenda - vão para o total da coligação. Em 2002, Enéas Carneiro teve mais de um milhão de votos. Por isso, outros deputados da sua coligação foram eleitos mesmo
tendo uma votação baixíssima. Um deles, o Baratão, teve menos de mil votos.

Por fim, quando você vota em um candidato a deputado, ou a vereador, você está votando automaticamente em todos os candidatos da coligação. Numa eleição
proporcional nunca se vota apenas em uma pessoa, o voto sempre conta para todo o grupo do qual ela faz parte. O voto no honesto que está coligado ao bandido ajuda
também o bandido. Pense nisso antes de votar.

Matheus Lima é professor da rede pública estadual de São Paulo