Os símbolos e o comportamento humano na
antropologia de Leslie White
Leslie Alvin White (19/01/1900 - 31/03/1975) Antropólogo estadunidense conhecido por suas teorias quanto à evolução cultural |
Para o estudioso Leslie White, o símbolo é a
unidade básica do comportamento humano. A civilização só existe em razão do
comportamento simbólico, característico do homem. A partir da teoria da
evolução de Darwin, muito se questionou sobre o que é o homem e qual a sua
diferença em relação aos demais animais (mamíferos superiores). Diante de dados
anatômicos, percebeu-se que a caixa craniana do homem era maior e que, por essa
razão, seu cérebro também o era. Dessa forma, o pensamento, o raciocínio, a
compreensão etc. estavam vinculados a um maior poder de associação de ideias
derivado das faculdades mentais humanas.
No entanto, Leslie constatou que a diferença entre
os homens e os outros animais era uma diferença qualitativa e não quantitativa.
Isto quer dizer que o homem usa símbolos para existir, mas que estes símbolos
são criados, inventados, pelos próprios humanos, diferente do animal, que pode
ser condicionado por símbolos, mas jamais poderá criá-los. Esse poder de criar
símbolos é especificamente humano (não há outros seres que o façam, nem graus
intermediários).
Símbolo é uma coisa cujo valor ou significado é
atribuído pelos seus usuários. Este valor nunca é determinado pelas
características físicas do objeto em questão, isto é, de suas propriedades
intrínsecas, mas sempre por algo arbitrário que se torna convencional. Por
exemplo, a palavra VER. Nenhuma destas letras, juntamente ou separadas, indica
uma ação de visualizar algo (em francês se diz VOIR, em inglês, TO SEE etc.). O
sentido faz parte da valoração coletiva sobre algo, é imaterial, mas é preciso
que alguma coisa física represente o sentido, perpassando nossa experiência.
Leslie também faz a distinção entre símbolo e
signo. O primeiro é a criação do valor de algo. O signo é a indicação de um
valor já criado. É uma forma física cuja função é indicar alguma outra coisa,
qualidade ou fato. O sentido de um signo pode ser inseparável de sua forma
física (como, por exemplo, o termômetro com a coluna de mercúrio que indica a
quantidade de calor) ou apenas separado, desde que analogamente evidencie a
coisa (previsão do tempo, por exemplo).
Vejamos um exemplo: tanto um cachorro quanto um
homem podem ser condicionados a perceber um som através das letras S-E-N-T-A e
desenvolver um comportamento. No entanto, o sentido dessa palavra só o homem
pode dar, criar ou inventar, já que o animal é incapaz. Outro exemplo: para nós
da civilização judaico-cristã ocidental, o preto é a cor do luto, representando
tristeza, saudade de quem se foi, enquanto que para alguns países orientais, é
o amarelo, pois a morte é um momento de alegria em razão da libertação do corpo
e da alma. A cruz, que representa o sofrimento de Cristo, é totalmente estranha
para um canibal africano.
Também são notáveis as experiências que Leslie
acompanhou. A criação de uma criança, juntamente com um macaco (símio)
evidenciou que por mais semelhantes que sejam, tendo a mesma educação, logo a
criança se desenvolve, juntamente a fala e a reflexão, a construção e a
superação de exercícios que o animal não consegue sequer problematizar.
Fica evidenciado, então, que a natureza do homem e
a dos animais são diferentes e que estudar o homem vai além das suas condições
físicas, mas também das condições históricas, porque a nossa história é a
história que construímos livremente a partir de símbolos que chamamos valores
culturais.
Por
João Francisco P. Cabral - Colaborador Brasil Escola
Graduado
em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU e Mestrando em
Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
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