quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cultural?*

* Texto escrito pela aluna Thais Karine Dutra Pinto, turma 101, 1° ano do ensino médio


         Transforma a cidade a cada ano que passa com sua decoração, desfiles, investimentos que consegue a partir do dinheiro arrecadado pelo trabalho voluntário, enfim, pelo clima de alegria que nos propicia. A Oktoberfest de Igrejinha, que este ano completa sua 23ª edição é considerada a maior festa voluntária do país. A festa tem entre suas principais atrações uma vasta agenda cultural, chope, comida típica alemã, shows nacionais, parque de diversão, a beleza e graciosidade da corte, entre outras. Não reconhecer os pontos positivos da festa seria hipocrisia da minha parte.
          Sabendo disso tudo, sexta-feira passada dia 15/10/2010 eu, toda contente (após ter feito minha carteira de estudante à tarde), me dirigi ao Parque de Eventos Almiro Grings na esperança de que, devidamente apresentada como estudante, poderia entrar na tal festa, tão maravilhosa, pagando meia entrada, quando fui surpreendida e bloqueada pelo “caixa voluntário” da festa. Obviamente argumentei, falando da lei n° 4.207, que foi criada em setembro deste ano assegurando que: Aos estudantes matriculados em estabelecimentos de ensino regular e aos jovens com até 15 anos, o direito ao pagamento de meia entrada em atividades culturais e esportivas. De nada adiantou os argumentos, a mulher voluntária me olhou com olhos firmes, sombreados de um lilás que combinava com sua blusa, fazendo com a cabeça que “não” e dizendo que “ este não é um horário cultural da festa”, “ se quer pagar mais barato, compre ingresso antecipado”. Paguei os dez reais cobrados na hora, que, diga-se de passagem, é um valor muito alto para uma festa comunitária.
           Entrei na festa, mas alguns pensamentos insistiam em rondar minha mente. Em primeiro lugar: eu tinha a carteirinha de estudante, com minha foto 3x4, os dados de identificação necessários, carimbo da escola, enfim, ela estava completa. Em segundo lugar: a lei existe, foi assinada pelo prefeito da cidade, eu tinha inclusive o Xerox desse documento em casa.
          E como se tudo isso não bastasse, a festa é rotulada em jornais, propagandas e telejornais, como cultural, o que lhe dá direito a uma verba pública destinada à esse tipo de evento. É aquela velha história de cobrar os direitos e não cumprir com os deveres, porque, como dever, a Oktoberfest teria que dar aos estudantes e aos menores de 15 anos o direito a meia entrada, como manda a lei.
          Isso não é indignante? Nós, pagantes, consumidores, financiamos a festa, damos vida à ela, assim como o ar é necessário em nossos pulmões, e na hora de recebermos o mínimo, o que é de nosso direito, recebemos um “NÃO” acompanhado por um sorriso amarelo, de um voluntário com pouca instrução no assunto.
          A coragem deslavada exposta no atual slogan da 23ª Oktoberfest é o que mais me impressiona: “A cultura germânica encantando gerações”. Ah, qual é? Pra começar a maioria das pessoas que vão à Oktoberfest não vão para cultivar a cultura germânica, a quem queremos enganar? E o que “encanta” as gerações não é a tal cultura, mas sim o chope, que as embriaga e torna o olhar sobre a festa mais leviano.
          A falta de consideração e a cultura se camuflam em diversão, bem vindos a Oktoberfest de Igrejinha.

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