Como todo bom país capitalista que se preze, no Brasil prevalece o velho mito da meritocracia. Se o sujeito se esforça, vai atrás, possui um dom (divino?) e faz bom uso dele, ele terá, sem sombra de dúvidas, sucesso em sua vida profissional.
A meritocracia é um princípio do liberalismo econômico e serve como base de todo o pensamento do "sonho americano." Os milhões de americanos que estão sem emprego hoje, na verdade, são os únicos culpados por seu fracasso. Não quiseram estudar, não tentaram mudar de vida. A crise econômica não tem nada a ver com isso, em absoluto.
No Brasil, hoje vivemos uma experiência de alguns anos do sistema de cotas para ingresso na universidade pública. Cotas estas reservadas para os negros. Mas, afinal de contas, não somos todos iguais?
Claro, biologicamente somos todos iguais. No entanto, socialmente somos diferentes.
O jovem que mora em uma casa confortável, em um bairro nobre da cidade, que acorda, toma um bom café da manhã, acessa sua rede social e vai para a escola de carona no carro do pai é exatamente igual à aquele que mora numa casa simples, numa periferia, que acorda e tem que fazer café para ele e os irmãos, arrumá-los para pegarem o ônibus e então, finalmente chegar à escola? Obviamente que não.
E, se levarmos em conta a cor da pele destes mesmos jovens, qual deles será branco? Qual deles será negro?
Infelizmente as oportunidades para negros e brancos no Brasil não são as mesmas. A imensa maioria das pessoas que moram nas periferias, nas favelas, etc. são negras. E a quase totalidade das pessoas que residem em bairros nobres são brancas.
A escravidão a qual os negros foram submetidos deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Os negros, que com seu trabalho, ajudaram a construir esta sociedade, não tem acesso aos melhores frutos que ela gera.
Não é por acaso ou mera coincidência que apenas 6% dos estudantes universitários são negros embora 51% da população brasileira não seja branca.
Os defensores da meritocracia torcem o nariz para o sistema de cotas porque isso contraria tudo aquilo que eles sempre defenderam: que a universidade pública seja apenas para os filhos da classe média e branca.
Por tudo isso, as cotas (e toda política de inclusão social) gera medo nas classes dominantes. E por isso, defender as cotas se torna tão importante, porque é um debate afirmativo, de que podemos sim, ser todos iguais.
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