Entrevista do sociólogo, pesquisador e professor de história contemporânea da Uni Sant’Anna e Unifai Marcos Horácio Gomes Dias, no blog Conexão Tribo
1 - Qual o principal motivo que leva as pessoas a criarem uma tribo?
A sensação de pertencerem a um grupo e constituírem uma identidade. Estar com os seus iguais significa ter aceitação e existir enquanto indivíduo.
2 - Você acha que a tribo causa uma forma de “isolamento social”?
Depende do ponto de vista. Estes grupos podem isolar as pessoas da sociedade hegemônica, daquela no qual a moral predominante exige regras para trabalho, casamento e conduta sexual. Por outro lado, a tribo socializa o indivíduo em outro grupo com normas e condutas de comportamento. É muito difícil o ser humano estar isolado socialmente.
3 - A expressão “tribo urbana” foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli. Você não acha que esse termo é um pouco preconceituoso, tendo em vista que antes a palavra tribo era utilizada pra se referir apenas aos indígenas?
Acho que não! Este termo refere-se a um agrupamento de pessoas ou indivíduos. Indica que existe uma sociabilidade que não é igual ao modelo europeu e americano de Estado-Nação, ordem jurídica, organização capitalista do trabalho etc. Como os indígenas americanos e os agrupamentos africanos não seguem estas regras, serviram de modelo e exemplos para os estudiosos entenderem os diversos grupos da própria sociedade ocidental.
4 - Qual a tribo que mais influenciou gerações?
Não existe uma específica. Existem várias: hippies, roqueiros, gays, góticos, religiosos, modernos, emos etc.
5 – Qual a tendência das tribos urbanas para os próximos anos?
As tribos geralmente seguem a tendência acima, mas as tribos religiosas têm aumentado de forma galopante.
6 – Qual o verdadeiro objetivo das tribos urbanas? Será esse fenômeno apenas um modismo?
Elas vem de encontro a uma insatisfação em relação a sociedade que se vive. Existe um descrédito naquilo que aprendemos como importante e bom: Estado-Nação, ordem jurídica, organização capitalista do trabalho, sistema educacional, divisões sexuais etc. Elas tentam criar uma sociabilidade que não leva em consideração os padrões da sociedade hegemônica. Podem até seguir uma determinada moda, mas irão existir sempre.
7 - Em sua opinião, qual a influência das tribos urbanas para a sociedade atual?
Permitem que indivíduos diversos se expressem, divulgam modas e, ao mesmo tempo, servem como vitrine para o capitalismo criar novas mercadorias.
8 – Você acha que o crescimento das novas mídias favorece o crescimento das tribos urbanas?
Sim!!! Mais do que isso, servem para a divulgação dessas tribos.
9 – Para Maffesoli, uma particularidade das tribos urbanas é o caráter volátil de seus vínculos internos, o que tanto torna sua dinâmica social muito rica, como enfraquece as ligações entre os membros, comprometendo o engajamento em projetos cooperativos de maior duração. Você concorda com essa afirmação?
Sim, pois estes pequenos grupos se articulam por meio de regras e normas. Dessa maneira, criam uma insatisfação constante naqueles que entendiam esta tribo como uma possibilidade de libertação ou de vida alternativa. O grupo acaba não respondendo aos anseios de cada desejo individual e assim não se torna coeso, impossibilitando qualquer luta política. Por outro lado, a própria vida contemporânea que exige um individualismo extremo e satisfação imediata dos desejos impossibilita uma cultura voltada para alianças e relações interpessoais. Por muitas vezes, o indivíduo procura uma tribo em busca de regras e normas de conduta, pois se sente tão perdido neste caos da civilização, que prefere se juntar a um grupo que tenhas normas e regras.
10 – Você considera o fenômeno das tribos urbanas como o maior movimento de massa da juventude?
Não sei se é o maior, mas é o que é possível neste momento.
*Marcos Horácio: Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1995), Pós – Graduação Lato Sensu em Arte e Cultura Barroca pelo Instituto de Filosofia Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (1999), mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (2000) e é doutorando em História pela PUC-SP (2008). Atualmente é professor titular do Centro Universitário Assunção, professor titular do Centro Universitário Sant’Anna e foi sócio-proprietário da Trilhos Consultoria em História, Cultura e Comunicação. Tem experiência como docente na área de História e Comunicação Social, com ênfase em Estética, História da Arte, História Contemporânea, Teoria da Comunicação e Sociologia, atuando também nas seguintes disciplinas: Patrimônio Cultural, Realidade Sócio-Econômica e Política Brasileira e Antropologia.
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