Entenda como trabalha o pesquisador que estuda a sociedade humana
Na colméia, cada abelha tem uma função. A rainha põe os ovos que irão gerar operárias e zangões. As operárias são comandadas pela rainha e constroem os favos do ninho, fazem sua limpeza e alimentam as larvas. Já os zangões vivem apenas o tempo de fecundar a rainha. Mas como sabemos disso tudo? Não foi uma abelha que contou! Essas informações são descobertas por pesquisadores que vivem observando a natureza. Graças à curiosidade deles é possível saber como diversos animais se organizam e se relacionam, o que comem, qual a função de cada membro dentro do seu grupo… Enfim, muitos pesquisadores estudam a vida animal, mas será que alguém estuda a vida dos homens?
Sim, e esta tarefa cabe ao sociólogo! Ele estuda a sociedade, mais precisamente a sociedade humana, ou seja, um grupo de pessoas que vive no mesmo espaço e segue as mesmas regras. De acordo com sua área de interesse, ele pode analisar a sociedade brasileira ou a de outro país, ou ainda diferentes grupos dentro de uma sociedade: índios, mulheres, crianças, e por aí vai. A cada grupo que estuda, destaca como seus membros se relacionam, quais são suas diferenças, seus problemas, em que acreditam, o que consomem e como se organizam. Conhecer os costumes de cada grupo é o primeiro passo para compreender seu modo de vida e a sociedade humana de maneira geral.
Com esse objetivo, o sociólogo também faz trabalhos de campo, ou seja, vai até onde seu objeto de estudo está. “Para entender como a Polícia funciona, por exemplo, o sociólogo pode somente entrevistar alguns de seus membros ou até ingressar na instituição. É a chamada observação participante”, explica Michel Misse, professor de sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Conflito Cidadania e Violência Urbana (NECCVU).
O que não falta é tema para ser analisado pelo sociólogo. Ele estuda instituições como a escola, a família, a Igreja, o governo e até fenômenos sociais como a pobreza e a violência. A intenção é sempre a mesma: entender o comportamento do homem em sociedade e acompanhar sua transformação com o passar do tempo. Assim como os temas de estudo, os locais de trabalho também variam. “O sociólogo pode dar aulas em colégios e universidades, ou ainda ser pesquisador em projetos específicos de empresas privadas, organizações não-governamentais, organismos públicos ou órgãos internacionais. Uma atividade não prende a outra”, explica Michel Misse. Mas depois de entrevistas e pesquisas, como as informações conseguidas pelo sociólogo são utilizadas nesses tais projetos específicos em que ele trabalha?
Para saber, é só prestar atenção em um exemplo prático. Kátia Sento Sé Mello, por exemplo, é professora de sociologia da Faculdade Hélio Alonso (Facha-RJ), pesquisadora do NECCVU e também participa do projeto de criação de um curso para formar a Guarda Municipal de uma cidade. Neste trabalho, ela entrevistou guardas municipais e autoridades da Secretaria de Segurança Pública para saber o que eles esperavam do curso. O trabalho não parou por aí! Após analisar essas informações e fazer muita pesquisa em livros, foram selecionadas as disciplinas mais importantes a serem ensinadas no curso em questão. Viu só? O conhecimento das pessoas envolvidas teve grande utilidade nesse caso.
Quer ver outro exemplo? Imagine que uma empresa pretende lançar um produto qualquer e contrata um sociólogo. O que ele pode fazer? Ora, se o sociólogo conhece os costumes e os gostos da população local, pode, nesse caso, contribuir para que o produto lançado atenda às necessidades da população.
E será que basta gostar de fazer pesquisas, entrevistar pessoas e — pronto! — temos um sociólogo? Nem sempre. Michel Misse conta que para ser um sociólogo é preciso criatividade, gosto pela leitura e curiosidade pelos problemas sociais. O bom profissional também quer contribuir para a melhoria das condições humanas, é contra a injustiça e trabalha bastante. Kátia Mello também dá sua dica: “Quem pretende ser sociólogo deve acreditar que o conhecimento auxilia a transformação das pessoas”.
E foi uma vontade de transformar o mundo que levou Michel e Kátia a fazerem faculdade de Ciências Sociais — curso dividido em Sociologia, Antropologia e Ciência Política, onde a escolha por uma dessas opções se dá no terceiro ano. Mas a vocação não vem da infância, não! Michel queria ser jornalista e Kátia pretendia cursar Letras. Na adolescência, o desejo de entender a sociedade em que viviam foi mais forte e — pimba! — viraram sociólogos. E a vontade de mudar o mundo, ainda existe? “É uma tarefa difícil, mas na sociologia vi que a melhor maneira de transformar o mundo é compreendê-lo e fazer os outros compreenderem também”, confessa Michel. Kátia completa: “Continuo achando que é possível mudar o mundo, mas com esclarecimento”. Está dado o recado! Se você sente o mesmo que eles, quem sabe não vai ser sociólogo quando crescer?!?
Fonte: Ciência Hoje das Crianças 129, outubro 2002, Elisa Martins,Ciência Hoje/RJ
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